topo
linha2

Fotogaleria

 
» Home » Crónicas e Artigos » Avelino Texeira » Coincidência, para mim um tesouro

 

Coincidência, para mim um tesouro

 

O autor, baluarte da literatura e das artes musicais e teatrais, nasceu no dia 22 de Maio de 1958, na vila de Santa Cruz da ilha Graciosa, Açores.

Dez anos mais tarde fixa-se com a família na ilha Terceira, onde permaneceu até 1978 e onde um ano antes concluíra o curso liceal no então Liceu Nacional de Angra do Heroísmo.

Em 1982, licencia-se em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Ingleses e Alemães), pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, sendo, actualmente, professor do quadro de nomeação definitiva da Escola Secundária Manuel de Arriaga, na cidade da Horta, ilha do Faial.

Como todos os cidadãos portugueses daquele tempo, que fisicamente se encontravam em condições para servir nas fileiras, cumpre o serviço militar obrigatório na Força Aérea entre 1983 e 1985 nas bases da Ota, Tancos e Lajes, com as patentes de aspirante e alferes.

Regressado à vida civil, entre Setembro de 1997 e Julho de 2004 exerce o cargo de Presidente da Comissão Executiva Provisória do Conservatório Regional da Horta. Simultaneamente desde 1998 é representante da Região Autónoma dos Açores no Conselho Nacional de Educação e, desde aquele ano, Presidente da Assembleia Geral da “Azórica”, Associação de Defesa do Ambiente.

Para além de todas as actividades e capacidades acima referidas, Victor Rui Dores é um poeta muito considerado, bem como escritor, ensaísta e crítico literário. Dedica-se ainda à etno-musicologia e aos estudos etnográficos.

No campo da linguística, pesquisa, há mais de 20 anos, os sotaques, as pronúncias e as variantes dialectais das ilhas açorianas. Foi por causa desta última faceta que eu tive o ensejo de o ver e ouvir na Casa dos Açores do Ontário, em 2009, aquando da realização da Semana Cultural daquela associação. Naquele dia, dedicado à Ilha Terceira, eu era o Mestre de Cerimónias.

Confesso que me sentia muito preocupado pelo facto de o ter que apresentar se bem que o meu primo Liduino Borba me tivesse providenciado a informação pertinente e me tivesse dito que ele era a pessoa mais simples e acessível que poderemos encontrar ao cimo da terra. Oh uome, eu adorei ouvi-lo! Devo dizer que muitas vezes quase que deixei escapar algum excesso de líquidos ingeridos naquela tarde. E creio que não fui o único?! No final da sua intervenção apeteceu-me cumprimentá-lo e felicitá-lo pelo seu escelente trabalho e sobretudo pelo à-vontade com que o tinha executado.

Indubitavelmente um grande actor! Mas tive pejo de o fazer pelo facto de sempre ter tido o cuidado de me colocar no pedestal a que pertenço e de não me aventurar a misturar-me com pessoas de nível superior ao meu.

Recentemente tive o ensejo de trocar alguns e-mails com o Dr. Victor Rui Dores pelo facto do Liduino Borba me ter enviado um livro, que creio ser o último trabalho literário daquela personagem de alto gabarito que em 2009 tive a honra de conhecer pessoalmente aqui em Toronto. Até então, apenas o tinha visto no programa de televisão “Gente da Nossa”. Através da nossa correspondência vim a confirmar o que o meu primo me tinha dito e devo confessar que foi um previlégio a troca de cartas electrónicas que fizemos.

O livro a que me refiro chama-se “Crónicas Insulares”. Foi editado em 2010 e dedicado à memória de sua mãe Judite e seu pai Elmiro. Aos seus irmãos Maria da Conceição, José Elmiro, Duarte Nuno e Raimundo Fernando. À sua esposa Regina e à Tânia e ao Pedro seus filhos de eleição. Segundo o autor, a publicação destas crónicas ficou-se devendo ao “acolhimento benévolo dos leitores do “Diário Insular”.

Neste livro de 150 páginas, para quem gosta de se deixar mergulhar em nostalgia, vai encontar histórias que o pode transportar a um passado maravilhoso mas também de inquietação como é o caso do embarque do autor no barco “Santo Amaro” num dia em que o mar estava bem agitado.

Bem me recordo dele atracado na baía de Angra do Heroismo balanceando ao sabor das ondas, mesmo que o mar estivesse calmo, quando com o meu pai, nas férias escolares, ía trabalhar para a moagem do Basílio Simões. Mas para além destas peripécias, o leitor também pode deliciar-se em outras circuntâncias mais agradáveis, como por exemplo: Uma passagem pelo Pátio d’Alfândega que embora menos movimentado do que actualmente era bem mais romântico onde se comia pão ao cheiro do marisco que a aragem trazia consigo e do cheiro ao café que era servido pelos empregados do Café Atlântico e do Chá Barrosa Dos passeios até ao Cais da Figueirinha talvez pela mão de alguma namorada.

E porque não até ao relvão onde se passavam momentos românticos e muito melhores quando a Lua se ausentava. Recordar passeios pelo Jardim Público Duque da Terceira mais vulgarmente conhecido pelo jardim de Angra do Heroismo. E as aventuras, quem as não tinha?, junto ao preto que nunca se cansava de jorrar água pelo cano que ostentavana boca. A Pastelaria Lusa que a toda a hora desafiava, com o aroma do seu café e das suas sandes quentes, os transeuntes que por ali circulavam. Os dias da Cimeira em 1971 entre Marcelo Caetano Nixon e Pompidou. O Tenente Coronel José Agostinho dando os seus habituais passeios pelas ruas da cidade e ao aproximar-se de alguma senhora fazendo uma vénia tirava o chapéu da cabeça. Vi-o muitas vezes proceder de tal modo. Que educação!

Podemos ainda através das crónicas do Dr Victor Rui Dores recordar o grande Gervásio Lima. O Padre Coelho que nunca abdicava uma vénia ao cruzar-se com alguém no seu caminho. Emanuel Felix com quem trabalhei no Arquivo Distrital e Museu de Angra do Heroismo. Recordo-me do que ele dizia de forma irada sobre os bafejados pela sorte que passavam pela Rua da Rosa e das caretas que ele fazia pelas costas do seu colega João Afonso e do Director Baptista de Lima.

Este às vezes surpreendia-nos aparecendo inesperadamente dirigindo-se a nós falando francês. Passávamos bons momentos à porta do Museu de Angra do Heroismo. Mas também não posso olvidar de que foi Emanuel Felix quem fez queixa de mim ao director por me ter visto a comer o meu lanche junto ao PBX o que não era permitido e com a porta principal semiaberta quando deveria estar fechada. Mas se eu não lanchasse ali teria que ir a qualquer lado onde me sentasse a comer pois não tinha dinheiro para ir almoçar a um restaurante. Encontrava-me muito longe de casa enganhava um mísero ordenado. Tempos depois passei a ir comer o meu lanche a casa da minha saudosa prima Francisca Tristão que morava no cimo da rocha.

Para além de Emanuel Felix, no mesmo livro, podemos também ler sobre outro poeta que já nos deixou, José Berto. Uma figura carismática com quem me envolvi, musicalmente, quando era muito jovem, durante os espectáculos promovidos pelos Armazéns da Covilhã com os quais deambulávamos pelas sociedades das freguesias da minha Ilha Terceira.

Um grande pianista que fazia do piano um brinquedo facilmente manobrável. Tão fácil como deria ter sido o escrever das crónicas pelo Dr Victor Rui Dores que muito lhe agradeço por me ter oferecido um exemplar das mesmas. Bem haja, meu Caro amigo se mo permite, pela edição de mais um livro cuja leitura é tão perceptível e acessível quão a sua forma de ser e de estar.

Queremos ouvir a sua opinião, sugestões ou dúvidas:

info@adiaspora.com

Voltar para Crónicas e Artigos

bottom
Copyright - Adiaspora.com - 2007